Novo olhar

Vida nova para a arte de Aldo Locatelli

Executadas pelo artista italiano, conjunto de 23 pinturas murais do Palácio Piratini passam por restauro completo

Alvaro Bonadiman - Especial DP - Diretor de Conservação e Memória do Palácio, Mateus Gomes, diz que investir na conservação do patrimônio é cuidar do passado olhando para o futuro

Por Ana Cláudia Dias
[email protected]


Patrimônio dos gaúchos, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), o Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul, passa por uma série de restauros que estão fazendo a salvaguarda do centenário prédio. Entre os destaques da obra estão a recuperação do conjunto de 23 pinturas murais, da década de 1950, criadas pelo italiano Aldo Locatelli (1915-1962), o mesmo artista que executou as pinturas da Catedral Metropolitana São Francisco de Paula, em Pelotas. A obra, no valor de R$338 mil, iniciou-se em fevereiro e deve prosseguir até julho deste ano.  

A proposta de um restauro completo deste conjunto de pinturas não é nova, há mais de dez anos já havia sido identificada a necessidade. Porém, só agora, com recursos do Estado, foi possível executar, pela “inexigibilidade de licitação, por ser um serviço técnico altamente especializado”.

O restauro está sendo feito por uma equipe de experientes restauradoras, formada por Maria Cristina Ferrony, Vivian Lockmann, Thais Ferrony e Cristina Prado. Maria Cristina Ferrony conta que, em 2010, quando trabalhou no Piratini, ao lado do arquiteto Edgar Bittencourt, já havia sido alertado sobre alguns sinais de deterioração. “É uma obra muito antiga e precisa de cuidados frequentes. As obras haviam passado por restauros, mas de forma isolada, esta é a primeira vez que o conjunto delas será restaurado”, comenta.
Maria Cristina comentou que algumas das pinturas estavam em bom estado, outras nem tanto, e apresentavam até descolamentos da camada de tinta. “Mas é um serviço bem técnico, não tem mistério para quem é da área.”

Para compor as obras, Locatelli utilizou tintas como a têmpera e a óleo, que ele usava mais nas partes altas. Entre as patologias encontradas pelos especialistas estavam, além destes descolamentos da camada pictórica, um forte indicativo de que é necessário o restauro, foi visto a necessidade de uma limpeza e se percebeu a formação de pátinas, compostos que surgem naturalmente pela exposição a elementos do clima, como a umidade, por exemplo.

“É normal com a passagem do tempo que a obra crie uma pátina”, fala a restauradora. Porém retirá-la completamente nem sempre é indicado. “Tem épocas que se acha interessante deixar uma pátina para se dar um certo valor a uma obra mais antiga.” Critérios como esse seriam mais questões de época, modismos ou interpretações.

Sobre o procedimento adotado neste caso, a restauradora diz: “Estamos procurando seguir as normas básicas, procurando fazer preenchimento das áreas com um tipo de pintura que de longe não se consegue perceber, mas de perto se consegue identificar a intervenção. Utilizamos o material de restauro que se tem de melhor e procuramos seguir as orientações da Carta de Veneza, de 1964”, explica.
Etapas

Desde o início do processo a equipe finalizou três obras que estão na antessala do governador. Agora estão no salão Alberto Pasqualini, onde as restauradoras trabalham na imagem Formação do Rio Grande do Sul, local no qual devem permanecer por cerca de 25 dias.

Posteriormente, o trabalho será direcionado ao salão Negrinho do Pastoreio. “Vamos começar pelos painéis das laterais e depois montar andaimes fixos para fazer os que estão no forro.” Atualmente, outra empresa, a Estúdio Sarasá, que está realizando outros restauros, faz a pintura dos dois salões.

Quem foi Locatelli
Aldo Daniele Locatelli, natural de Bérgamo, na Itália, chegou ao Rio Grande do Sul em 1948 contratado para executar os murais da igreja de São Francisco de Paula, em Pelotas. No município, chegou a se tornar professor da Escola de Belas Artes, porém seu trabalho encantou os gaúchos que o chamaram para dar vida a outras obras.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Memórias e histórias da planície chegam ao leitor de forma poética Anterior

Memórias e histórias da planície chegam ao leitor de forma poética

Jocelito Zalla lança segundo livro sobre Simões Próximo

Jocelito Zalla lança segundo livro sobre Simões

Deixe seu comentário